Cidade Prometida

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Sou mais um entre tantos, na terra dos poetas. Nessas terras, palmilhei a geografia do seu corpo, nas noites, nas tabernas, subindo montes, descendo serras. Foi do Alto do Inglês, que pela primeira vez, a cidade abracei. Nos alpendres dos seus engenhos, nos arcos dos seus casarios, meu corpo, indolente, repousei. De braços abertos, corri contra o vento. Nos campos, cavalguei no lombo do cavalo, sem sela, espora ou rédea. Bebi leite quente, espumante, ordenhado no peito da vaca. Joguei bola, peão, bola de gude, e pipas, lancei ao firmamento quebrei vidraças namorei escondido, ouvi xingamento. Nas casas de farinha, minha mão concha, em cada punhado, degustava quentinha... Mel, cocada, banana amassadinha. No Cocão do Padre, saciei minha sede. Na fonte de água gelada, me debrucei. E, quando sentia o cheiro das frutas: araçá, goiaba, cajá, mais que ligeiro, corria pra lá, e lambia o caldo doce que escorria por entre dedos, mãos e braços, das mangas, das canas caianas.
Mergulhei nos seus rios, pesquei cundundas e piabas, e quando senti frio, dancei com as morenas do velho Rabeca no pastoril.
Neste pedaço de terra, inexoravelmente, estrelas me guiaram. Aqui, fiz juras eternas. Casei, procriei. Algumas vezes, me excedi, noutras refleti...
Fui menino e homem sonhador! Carreguei nos ombros da vida, a cada partida, não medi distância, indo ou vindo, sempre voltei para o teu seio sorrindo. E hoje, é minha a cidade que um dia me foi prometida!



Genésio Cavalcanti. Palmares, hoje e sempre!


Imagem: Denilson Vasconcelos

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