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Lembranças ruins

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Há exatamente dois anos atrás, Palmares, viveu uma catástrofe sem precedentes, e graças a Deus e ao povo guerreiro desta terra, a cada dia, vai tomando ares e forma da nossa eterna princesinha dos canaviais. Vivemos naquela época momentos d...e dificuldades e angústias que permanecerá marcado na mente de cada hospedeiro palmarense. E foi naquela hora de agonia e desespero, caminhando pelas ruas destroçadas e chafurdadas na lama, que registrei com palavras aquela tragédia, aquele sofrimento.

"Caminho a passos lentos sem pressa alguma. Sigo os rastros da destruição desviando dos escombros entulhados pelas ruas, avenidas, jardins e praças da cidade despedaçada pelo tsunami catastrófico que arrasou nossa querida Palmares.
Horroriza-me sua paisagem devastada, e do que dela sobrou; e que permanece escancarada nos olhares incrédulos das pessoas em tons soturnos de sofrimento, desespero, angústia e de medo. Dói-me a alma ver-te sombria, com teus casarios chafurdados na lama fétida, corrosiva e contagiosa. Em outras moradias, a sorte não foi complacente. Foram impiedosamente arrastados pela fúria incontrolável da terrível enxurrada, não restando sequer, nem mesmo o próprio terreno. Corta-me o coração olhar-te desguarnecida, intransitável, pois viraste um grande amontoado de sujeira. O teu tradicional comércio conta e reconta prejuízos incalculáveis. E não se sabe ao certo, se sobreviverá: esperar pra ver!
Escrevo, tentando descrever o indescritível. Seria o fim dos tempos? Uma tragédia apocalíptica? Ou apenas mais uma tragédia anunciada e irresponsavelmente não revelada pelas autoridades competentes?
E eu sigo, sigo em busca do nada, ou quem sabe do tudo perdido. E procuro, como quem procura no palheiro, as reminiscências de um passado que jamais será esquecido. E lembro Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. É preciso seguir em frente, afinal de contas, a vida é um eterno recomeço.
Caminho sobre o mundo das incertezas, driblando obstáculos quase que intransponíveis. Mas é preciso não se deixar abater. Levantar a cabeça, agradecer a Deus por tudo e seguir em frente.
Reencontrar meus próprios passos, à medida que a caminhada se faz longa e tortuosa. São os percalços da vida.
Não passa despercebido aos meus olhos e ouvidos o clamor de uma velha senhora, que chora e implora de joelhos, com o olhar lacrimoso, e o rosto curtido pela amargura e desesperança. Valha-me Nossa Senhora do Desterro, valha-me Deus, ajuda-nos oh Senhor! Tende piedade de nós.
Bem pertinho de mim, um cachorro mestiço de grande porte uiva aflitamente, e no seu uivo lamurioso e solitário presume-se que seu querido dono também tenha sido sugado pela correnteza abaixo...
O crepúsculo no horizonte indica o final da tarde. Inexoravelmente, caminho até chegar as margens do velho Rio Una. E lá está ele, tripudiando das nossas lamentações. Perene, majestoso, largo, brilhoso e limpo. Devolveu-nos com juros e correção toda sujeira que nele depositamos.
Chega a noite. E eu te vejo trêmula de frio, encharcada, moribunda entregue a ratos, baratas e outros indesejáveis insetos que te corroem dia-a-dia.
E hoje sem tuas vestes luminosas e acolhedoras. Completamente nua, desprotegida, desamparada. Agonizante! Sem tuas praças, sem teus colégios, sem o grande marco do teu cotidiano, que é a biblioteca municipal, sem teu passado, sem tua história. Mas não haverá de ser nada, bastará dia após dia, ano após ano.
Não te abandonarei. Continuarei a vigiar-te e a querer-te e a amar-te! Mesmo sabendo que parte de ti foi totalmente dilacerada. E surgirás, e te erguerás. Ressurgirás das cinzas, como a Fênix, pois és a canção da própria natureza! “terra de cultura e de grandeza”.
E para mim, continuarás sempre sendo a minha princesinha. A princesa dos canaviais, a minha pérola irradiante. A eterna pérola do Una!"

Palmares hoje e sempre!
Genésio Cavalcanti


E o Rio Una ameaça novamente...

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Final de semana de muita chuva, mais uma vez alarmando a população.  O Rio Una está em seu limite máximo, assustando os moradores, que já fazem plantão monitorando..
É assim toda vez que chove muito, todo mundo fica sem sossego. E assim viveremos mais uma noite de terror...
A verdade é que nada até agora foi feito para dragar o Rio,o que seria muito bom. Sabemos que as barragens serão construídas, mas isso vai levar muito tempo.

Enquanto isso, haja coração!



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Palmares, a memória que resta

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 Ainda nem sei o que fazer da minha vida. Voltar para Palmares e viver neste caos em que se encontra nossa cidade, ou tentar começar vida nova em outro lugar. O melhor é ter calma e esperar a poeira que ficou da lama das enchentes baixar.

"Do rio hoje apenas vê-se o seu completo assoreamento, quase completamente inexistindo nos períodos de verão, ressurgindo nos períodos chuvosos com intermitentes transbordamentos os mais violentos, invadindo tragicamente todos os municípios que se encontram às suas margens.
  Nesta parte convém registrar os descasos constatados em todas as extensões pluviais do país, creditando-se às administrações públicas desastrosas pelo completo desrespeito histórico e aos sobreviventes moradores dessas áreas abandonadas". 

  Por Luiz Alberto Machado


"Aplausos ao Vento"

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Era uma vez uma cidade pequenina, cercada por seu maior rio e algumas montanhas, ela ficava situada num vale chamado "Aplausos ao Vento", esse nome poético tinha sua origem dada pelos primeiros habitantes dessa região. Segundo os mesmos, quem morasse ou estivesse por lá, podia sentir um vento suave e gostoso, bem como, observar o tremular de suas árvores gigantescas (Palmeiras) que ao bailar do vento fazia um barulho harmonioso como se estivessem dando "Palmas aos Ares". As pessoas dessa região levavam uma vida pacata, trabalhavam cultivando o campo, e também negociando seus produtos em uma feira livre ou num pequeno comércio da cidade, uma vez a cada semana. O que chamava a atenção aos transeuntes daquela pequenina cidade era que ela inspirava certa harmonia, dando um tom poético à vida. Muito tempo depois essa cidade foi chamada de "Terra dos Poetas". Assim vivia a população cotidianamente, levando sua vida tranquila, inspirada em sua própria terra. Acontece que a vida das cidades, assim como a das pessoas, não segue sempre um rumo definido ou um caminho reto. A vida tem em si seus altos e baixos, assim como aquela região tinha as suas montanhas. Tudo naquele interior seguia o seu ritmo tranquilo. Mas de repente, em meio a um inverno que parecia comum, se "assolou" sobre aquela região fortes chuvas, por vários dias e longas noites. Isso gerou uma grande enchente que desaguou no maior rio. Esse não suportando tanta água, transbordou e "brutalmente" arrasou toda a cidade. Foram momentos, horas, dias, noites desesperadoras para todos os seus habitantes... A maior parte da população prevendo o que estava por vir, aos sinais das fortes chuvas conseguiu se refugiar nas montanhas daquele vale, outra parte não teve tempo hábil ou força para fugir da morte. Infelizmente, foi uma destruição total das casas, dos animais, das plantações e da vida de muita gente... 
Ao término das fortes chuvas e ao baixar das águas, a população refugiada voltou para ver o que restara de suas casas e dos seus pertences. Diz-se que, o quadro encontrado fora tão aterrorizante que parecia não se ter mais esperança ou vida alguma para se continuar. E registra-se ainda que, embora tenham se passado décadas, as marcas da dor, mas também da esperança/recomeço estão presentes na memória e no coração daquela população. Enquanto as pessoas perambulavam em meio aos destroços do que sobrara, um jovem chamado Luís, encontrou resto de um muro, onde fora uma casa. E nesse muro estava o registro poético da alma da população, que dizia assim:

Por toda a vida
Alguns passaram e outros passarão
Livres com as aves
Malucos com os poetas
Aventureiros sem temor
Recomeçar é o segredo
Eterno da (re)construção do Ser feliz!

Luís movido pelas palavras e pelo sentimento de força que essa lhes dava, foi chamando quem encontrava e apresentando o poema um a um.

Falam os antigos que essas palavras não se foram ao vento, geraram frutos de esperança, de união e de recomeço na população... E assim juntos, pouco a pouco, foram reconstruindo suas casas, seu dia a dia e sua nova cidade que foi chamada de Palmares.


Amaro França // Diretor do Colégio Marista
diretor.janga@marista.edu.br