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Assim vou vivendo

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Assim vou vivendo
Um novo dia novinho
Cheio de paz, alegrias!

O ontem? De que me importa?
Deixemos os ontens de lado!

Eu quero saber do hoje
Do hoje que se espalha leve
Sereno, feito de calmaria.

Do ontem, não...

Prefiro minha mente livre, absorta
Perdida em lembranças
Deslizando em outra sintonia!


Genésio Cavalcanti

Semeando sonhos

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Sonhando acordado
Hoje, a vida me perguntou:
“O que farás quando acordares do sonho de viver?”
Respondi-lhe com propósito:
Minha estrela-guia me conduz para um recanto de paz e luz...
Lá, viverei da brisa que sopra os mares, dos ventos que embalam os penachos das palmeiras da minha terra.
Adormecerei até florescer nos campos, o aroma das flores.
Viverei da espera infinda pelo reencontro de cada amor, que em vida amei e por eles, certamente, com amor serei nutrido.
Abraçarei cada amigo que convivi.
Deixarei que o silêncio tranquilo da aurora avive em meu semblante os momentos de felicidade!
E à sombra da calmaria, de nada terei temor.
Viverei da essência de cada canção que um dia escrevi.
Reviverei cada um dos poemas adormecidos, calmos e latentes como um vulcão pronto para entrar em erupção.
Me entregarei completamente ao tempo da espera...
Viverei dos desejos incontidos entre o real e a simples ilusão de tê-los um dia podido ou não evidenciá-los.
Esperarei com perseverança ao chamamento do juízo final.
Mas, enquanto do sonho de viver eu não acordar, seguirei vivendo e semeando novos sonhos, pois, sei que ainda é tempo de viver e de sonhar!

Genésio Cavalcanti
Palmares, hoje e sempre!
Preserve os direitos do autor!

Mar de Paixão

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Adoro essa música. Me transporto e viajo nesse mar...sem falar na doçura da voz do meu amiguinho Mazinho...
Poesia pura, que transbordou e inundou a minha alma. Uma das mais belas composições do meu irmão Genésio.

Porque todo dia é dia de viver!

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Belo poema do meu amigo poeta e escritor, Luiz Alberto Machado. Com edição de Meimei Corrêa. Como ela mesmo escreveu: todo dia é dia de viver...então gente, que vai ser do nosso planeta se não cuidarmos dele? Cuidar da natureza é cuidar da nossa vida, preservar o meio ambiente, para que tenhamos sempre árvores, flores, frutos... animais e tudo de belo que a vida nos oferece!



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Gente da minha terra

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O negro céu ainda esconde o raiar de um novo dia. A noite exibe risonha a madrugada escancarada. No céu, uma névoa encobre parte de uma cidade esquecida na bruma do tempo. O homem cutuca a mulher que se encolhe e vira resmungando. Fazendo esforço para manter-se de pé, ele levanta-se temendo estar atrasado. O bom e velho despertador deve estar caducando, nunca se atrasa, pensa... ele. A essa altura, já deveria ter cantando por três vezes.

 Caminha ainda trôpego, acende o bico de luz, dirigi-se para a porta dos fundos da casa, ao abri-la depara-se com o amigo estirado no terreiro. Morrera o galo das noite em vigília. Suspende-o pelas asas, examina-o diagnosticando-o :! “ deve de ter sido de gogo, mal que assola a raça!” Em seguida chama por sua Maria, que prontamente levanta-se e vai ao seu encontro. Mostra a ave inerte pendurada pelas asas a ela, que contém-se do choro com os olhos rasos d’agua.

A mulher acende o fogo de lenha, coloca o bule verde florido, retinto de tisna de carvão, sopra e abana, espantando piaba, seu cachorro magricela e rabugento, porém de muita estima, para focinhar o amigo das brincadeiras terreiras.

Seu João senta-se no tronco de madeira apodrecida e prepara o cigarro com o fumo de corda, colocando-o entre os lábios murchos de banguela.
O gole de café fervente faz descer o pedaço de pão adormecido por dias. Alimentado, cava com sua enxada três palmos de terra, ajoelha-se e enterra a tão estimada ave. Ainda era criança quando recebeu de presente de seu pai, o tão querido galo. Cobria quantas galinhas desejasse. E não era por demasia que lhe apetecesse. Disposto e brigador. Naquele pedaço de terra, outro galo jamais se arriscaria a cantar de galo... Defendia seu paraíso com unhas e bico. Certa vez, até uma cobra de duas cabeças, enfrentara, ciscando-lhe e bicando-lhe, matou-a! Chamava-se Chico, negro de asas, brigador de nascença. Discussão com a vizinhança só quando se excedia nos cantos alvorescentes.

No velho pardeeiro, desteme-se a picada do barbeiro. O que causa angústia e medo é a fome, pois desta ninguém escapa. O homem dá os últimos retoques na indumentária que o protege diariamente do sol inclemente e do pêlo da palha da cana-de-açúcar , que na melhor das hipóteses, causa-lhe prurido e alergias: camisa longa atacada até o pescoço, meias que calçam pés, servem para abrigar mãos e braços, calça jeans remendada, o velho chapéu de palha puído, a bota Sete Léguas; sem esquecer da quartinha com água do pote e principalmente da bóia escaldada e fria, recheada de pimenta malagueta e por último, o fumo para mascar quando o tempo se fizer de lerdo. Adepto de prática religiosa, benze-se três vezes, e agradece reverenciando a Deus, tirando o chapéu.

Despede-se dos quatro filhos menores que se amontoam num estrado ao lado da cama de casal. Olha para a mulher que já pendura no ventre outra cria e vai saindo, e já espreitava a porta, quando pára para escutá-la: “Deus te ilumine, te leve e te traga!” Maria, ainda é uma mulher nova: tem peitos grandes, que lhe tremem a miúda blusa. Peitos que incessantemente alimentam. Seios fartos e fé, não lhe faltam. É devota de vários santos. Pra cada doença, se agarra a um: Santo Expedito, Santo Amaro, São Benedito. Mais tem um que é o seu favorito: Padim Ciço Romão Batista do Juazeiro.

O destemido homem, enverga nos costados a foice, instrumento de sua labuta e célere desce a ladeira escorregadia, encharcada do barro misturado às poças d’agua. É uma sexta feira de um mês chuvoso, de qualquer que seja o ano. É a vida que lhe cabe!

Para este homem, não existe perspectivas. Sua vida é marcada sem lampejos de futuro. Sem histórias de passado.
Mais à frente, encontra-se uma legião de amigos que aguardam pacientemente o caminhão para transportá-los a quilômetros dali.
O tempo é comprido e longo, sem contas, sem queixas, sem reclamos, não há o que bradar. Nas mãos dos que enganam, roubam-lhe no peso das toneladas de cana cortadas, ou furtam-lhe nos metros medidos pelo cabo. O que fazer? A quem A quem apelar?

No infinito, o olhar percorre o firmamento, inatingível, impassível. Ergue novamente, no partido de cana, a foice que rompe desafios, nem ao menos sente a hora avançar. A cada foiçada, renova-se seu vigor, escorre-lhe o suor pegajoso que aduba a terra pingo a pingo, mirrando suas forças. Mesmo assim, inclina-se sobre as pernas, abrindo a marmita, degusta o bolo compactado de feijão, farinha e o próprio caldo da cana e faz descer goela abaixo, a bóia fria preparada na noite anterior.

Final da tarde, o mulato parrudo e musculoso, já encontra-se fraco, cansado. Olha em volta com a serenidade dos que sabem distinguir latifúndios e terras que possui nas unhas dos dedos calejados, deformados. É hora de fazer o percurso de volta, mete-se no pau-de-arara e faz a viagem de volta em silêncio, pensativo, lembra do galo, aquele lá pelo menos, descansa em paz.

O caminhão despeja-os onde foi buscá-los. Há tempo ainda para desafogar as mágoas. Pára na bodega da esquina, mergulha no esquecimento o que de direito lhe foi usurpado, entorna algumas lapadas de aguardente de cana, que ironicamente ajudou a produzir. Ao chegar em casa, é recebido festejamente pela molecada e recebe deles, o abraço sem igual. Sacodem-se em seus braços, brincam alegremente. Assim a vida segue até quando Deus quiser!

Genésio Cavalcanti
Palmares, hoje e sempre!